“Submarinos alemães infestavam o Atlântico Sul, e o comparecimento da pujante Luftwaffe não seria impossível. Nossa marinha de guerra e nossa força aérea patrulhavam nossos mares. Natal e Recife eram sentinelas de nosso território. Foram também, fontes preponderantes para o suprimento aliado na campanha da África. Lembre-se Dacar esteve na eminência de ser ocupada pelo exército alemão.
Estaria, inclusive, nos planos do marechal Von Rommel. O famoso “Raposa do Deserto”. De lá poderiam as forças inimigas investir contra a parte oriental do nordeste do Brasil.
O arquipélago de Fernando de Noronha, a sentinela mais avançada, era nitidamente vulnerável, mas a região mais estratégica do País era o extremo leste, taticamente as bases de Parnamerim, em Natal, e Ibura, no Recife.
Após uma série de torpedeamentos de navios mercantes brasileiros, exatamente no dia 23 de novembro, embarcamos no Almirante Jaceguai, com destino a Recife.
As viaturas que nos transportaram ao cais do porto lá chegaram anoitecer. Chovia, e no lusco fusco éramos cercados por indagações pranteadas de mães, namoradas, amigas, a respeito de seus entes queridos.
O navio permaneceu no largo da baia alguns dias; pequenas embarcações o circunvagavam para adeuses aos embarcados.
Nosso navio vai para Recife, escoltado por navios de guerra, americanos e brasileiros. Além da tropa, era conduzido todo o material bélico, canhões, metralhadoras, projetores, aparelhos de escuta e outros.
Um ataque de submarino ao comboio seria suicida. Mas se o alto comando alemão considerasse proveitoso trocar um submarino pelo regimento de artilharia antiaérea inimigo, que se deslocava para uma posição tática, isso seria executado sem vacilação.
Muita gente não sabe, hoje, o que eram a disciplina o destemor do combatente alemão, como também não sabe como a guerra submarina esteve em nossos mares.
Por isso mesmo, não obstante o poderoso comboio que o cercava, o navio que conduzia o regimento tinha canhões antiaéreos artilhados, participaria efetivamente da refrega, se ela viesse.
Nessa viagem, por precaução, toda a tropa dormia no convés, obrigatoriamente com o salva vidas atado ao corpo, o que era bastante desconfortável. Alias o desconforto era geral. Como colchão simplesmente a lona da barraca, que tinha grampos, colocadas sobre o assoalho do convés; como travesseiro, a capa de chuva, como coberta, apenas a manta verde oliva. Banho somente de água salgada, tão logo o corpo se enxugava, irrompia desagradável coceira. Tão logo anoitecia, o blackout era absoluto. Fumar ou acender um fósforo era punido com prisão no porão do navio.
Mas o moral da tropa não arrefeceu.
A viagem terminou no dia 30 de novembro. Documentada por ofício do Estado Maior da Armada, dirigido à Secretaria Geraldo Exército, ela foi declarada participante de operações bélicas.
O comandante da 7ª Região Militar era o General Mascarenhas de Moraes, que comandou a FEB. O comandante da 7ª Zona Aérea era o Brigadeiro Eduardo Gomes, que viria a ser o Patrono da Aeronáutica.
Aliás, Recife, pelo Decreto-Secreto nº 10490/A, de setembro de 1942, fora considerada zona de guerra.
A Anti-Aérea aquartelou-se no bairro de Santo Amaro, rua da Fundição,(era uma fábrica de mosaicos), tendo nas proximidades o parque 13 de maio, o Instituto de Educação, o Ginásio Estadual e a Faculdade de Direito.
Assumiu ainda as seguintes posições:
* De canhões – Forte do Buraco;
* De metralhadoras -Vila das Costureiras e Forte do Brum (construção holandesa de 1629, situada no velho Recife);
* De projetores- Praias da Pina e de Olinda.
O regimento foi muito bem recebido pela população de todas as classes sociais. A farda tinha muito prestígio. A oficialidade era a melhor que se podia desejar. Sem quebra da disciplina, éramos amistosamente tratados. O comandante Saint Clair Peixoto Paes Leme era um pai. Apenas o sub, Capitão Mourão, era um tanto rigoroso, por isso também chamado de Leão da Metro. “
E, para finalizar, resta acrescentar, o que consta nas minhas alterações de serviço na parte que mais interessa:-
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